Szukalski, artista e muito mais. Uma figura que simboliza a polaridade da arte: “prazer e obscuridade”.
Porque arte não é só estética e emoção. É também propaganda.
“He reaches the point where art ends, where art – in its modern, European sense, as a production of objects of selfless aesthetic contemplation – exists no longer. And where a different order reigns.” - Wawrzyniec Rymkiewicz

Stanisław Szukalski (1893-1987) foi um artista polaco do século XX com especial destaque na expressão escultórica. O interesse do seu estudo surge, em parte, devido ao peculiar conteúdo programático que resulta de uma transgressão entre vários estilos. De forma coerente, ele interliga vários tempos e espaços através da fusão de distintas influências – como mitologia arcaica ou motivos de civilizações antigas (egípcias, polinésias, etc) -, articuladas de acordo com os valores modernos das experiências vanguardistas, de onde se destaca a energia futurista, a emoção impressionista e a construção geométrica cubista.

A sua estética distinta deve-se à inerência dos valores plásticos que aplica nas esculturas. Szukalski acentua intensamente a tridimensionalidade dos volumes, bem como a expressividade formal, principalmente na representação de figuras humanas. Estas apresentam-se deformadas e exageradamente tensas, com emoções caricaturadas que exibem o clímax do pathos.

Numa outra perspetiva, Szukalski evidenciou-se pela participação na dimensão político-religiosa da Polónia. Com uma visão radical e niilista, seguiu ideologias nacionalistas, fascistas e racistas que, irrefutavelmente, se espelharam na sua obra. A sua identidade autoritária e patriótica afirmou-se pela critica à cultura artística da própria nação, que afirmava ser inexistente visto que a Polónia se encontrava na sombra da Europa cristã e académica. Nesta lógica, defendeu a necessidade de erguer uma “Segunda Polónia” livre de influências ocidentais, com uma arte que evocasse as origens polacas do passado eslavo - nada mais que uma visão romântica da “pureza primitiva”. Foi nesta campanha que a sua obra se baseou. Szukalski crucificou os valores puros da autonomia da arte em função da austeridade do padrão artístico nacionalista.

A figura de Szukalski serve como uma parábola dicotómica do nacionalismo, no sentido em que se representa enquanto símbolo, mas também enquanto vítima. Em 1939, com o despertar da segunda guerra na Polónia, o seu atelier foi bombardeado pelas tropas alemãs. Com toda a sua obra perdida, caiu na aura obscura do esquecimento do ciclo historiográfico. A sua carreira havia sido arruinada. Szukalski bebeu do próprio veneno. Nos seus últimos anos, através de uma introspeção do resultado desse período bélico, a sua visão clareou-se e demonstrou remorsos. Tornou-se recetivo a culturas semitas que antes havia criticado, e crucificou todos os “-ismos” dogmáticos. Perdeu a fé no alcance da modernidade através de extremismos. No entanto, o mal já havia corrompido, sendo visto por muitos como um retrato do nacionalismo polaco.
Eu gosto de o imaginar somente enquanto artista. Infelizmente, sei que foi mais que isso. Entendo que com uma interação tão demarcada se torne difícil separar a arte da política. Porém, de tão sensacional que é a obra de Szukalski, penso que valha a pena o esforço. A arte, enquanto campo por si só, tem de ser julgada de acordo com princípios próprios não inerentes aos horrores da condição humana. Concordo que, por um lado, deva ser entendia enquanto dado histórico, uma fonte arqueológica que reflita determinadas informações sobre culturas e tempos, mas não deixemos que a consciência domine completamente a nossa alma. O sentido estético prevalece. A expressão de Szukalski é única e tem de ser apreciada, pelo menos do ponto de vista formal - já que o conteúdo tende a fugir para o indecoroso. É um exercício difícil, mas merece ser feito.
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