Cavalo Dinheiro (2014) é um filme, principalmente etnográfico, com características de ficção e documentário, convergindo no género de ‘’docuficção’’ou ‘’paraficção’’. É a oitava longa-metragem do realizador Pedro Costa, sendo também escrita pelo mesmo, e estreou a 13 de agosto na edição de 2014 do Festival Internacional de Cinema de Locarno.
Nesta obra o realizador rege-se pela mesma linha de filmografia que tem vindo a criar desde o filme Casa de Lava (1994), com elementos de ficção e também de documentário, tais como a existência de um argumento, feito a partir de testemunhos reais, e também o uso de não-atores ou atores não-profissionais.
O título do filme tem como referência um cavalo chamado Dinheiro que Ventura, o protagonista, deixou em Cabo Verde ao partir para Portugal. Este cavalo terá sido morto por abutres mais tarde, servindo como uma metáfora para o próprio Ventura, que terá sofrido outro tipo de morte quando veio para Portugal trabalhar nas obras.
Ventura é um emigrante cabo-verdiano do Bairro das Fontaínhas. Já de certa idade e doente, vagueia nas suas próprias memórias, onde realidade, delírio, passado e presente se juntam num só, transformando-se numa verdadeira viagem tanto onírica como assombrada. Ventura é o corpo dum povo que sofre e nunca esquece.
O palco deste filme é, metaforicamente, a sua mente. O protagonista deambula por prisões, hospitais, locais abandonados, no que parece ser um episódio de delírio, ou de retorno a um passado traumatizante. A ideia de narrativa linear é completamente retirada da equação, de tal modo que não existe uma linha temporal fixa, pois como seria possível representar o início e o fim do que é o sofrimento de um homem e do seu povo? Todo o filme é desprovido de uma sensação temporal real.
As influências do expressionismo alemão como Murnau, no que toca ao tratamento da luz, são visíveis no filme. O realizador desenvolve uma forma de narrar os traumas, inevitavelmente vinculados à migração e ao colonialismo, nas suas imagens. A luz é expressiva, de modo a contar as histórias das personagens, tanto das principais como das secundárias, de forma justa e paciente, cujo foco é fazer um retrato realista das suas vidas difíceis e injustiçadas.
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